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Dorinho Análises #1 - Torcida, comunidade e cultura esportiva

Tô abrindo um novo espaço aqui no site pra falar de coisas um pouco fora do escopo dos 4 times que eu torço. Às vezes eu quero falar sobre algo mais específico que foge um pouco desses times, então pra esse novo ano que tá pra começar teremos Dorinho Análises.



Nesses últimos 5 anos acompanhando todos os esportes americanos que eu consegui assistir foi inevitável aprender uma coisa ou outra sobre como os times de lá operam, não só nos bastidores mas quando entram em campo também.


A diferença de como as torcidas funcionam lá comparado ao Brasil é imensa, mas não é por isso que devemos só ignorar e aceitar que não entendemos eles. Dá pra aprender muita coisa com esses times, franquias e organizações.


No mundo inteiro a torcida é parte essencial da estrutura de um clube, e isso é muito evidente com os times nos EUA, onde tudo que envolve o mundo esportivo passa pelo torcedor fanático. É ele que movimenta a maior parte das finanças do time, é ele que carrega o time nas costas muitas vezes, é ele que não abandona nos piores momentos.


E tudo isso se dá pelo fato de que lá os esportes são um meio de unir as comunidades locais. Há casos de times que os donos planejavam se realocar pra outro estado e foram impedidos por protestos da comunidade local, essa é a importância de uma franquia esportiva pra uma cidade.



Assim como o Brasil, os EUA é um país enorme, mas o que faz essa diferença de cultura esportiva ser tão grande é o fato de que lá os torcedores são fiéis aos times da cidade que eles nasceram ou cresceram.


Quem nasceu em Boston jura lealdade eterna ao Celtics, ao Red Sox, ao Bruins. Quem cresceu em Nova York é torcedor do Giants ou do Jets, não importa o quão miseráveis esses times sejam. Até quem nasceu em estados que não possuem representantes em esportes profissionais dão seu jeito, torcendo pra times de esportes universitários ou de divisões inferiores.


Nós não estamos acostumados com isso, porque aqui no Brasil todo mundo sabe como funciona. Você nasceu em um estado que não possui time algum com qualquer expressão nacional, mas seu pai era flamenguista fanático, então você se apega a esse time.


Não há certo ou errado nessa história, cada cultura se desenvolve de sua maneira e cada pessoa constrói um vínculo com seus respectivos times da maneira que quiser, mas é daí que parte a diferença. O seu time no Brasil é um símbolo da sua individualidade, enquanto nos EUA ele representa comunidade acima de qualquer coisa.



E essa diferença é transmitida em campo, com o principal aspecto dos esportes americanos que não é visto por aqui: A cultura interna de um time.


Nas ligas de esportes americanos, cada time tem sua própria cultura que dita como a administração do time opera, quais jogadores são contratados, qual é o modelo de expansão do time e, principalmente, como a torcida se comporta.


Voltando ao Brasil, dá pra identificar alguns padrões nas torcidas daqui. Os palmeirenses são conhecidos por serem corneteiros demais, a torcida do Flamengo é notavalmente soberba, os vascaínos são provavelmente os torcedores mais fiéis do país, a torcida do Corinthians canta sem parar durante 2 horas inteiras, etc.


Tudo isso faz parte da identidade desses times, mas ainda assim não dá pra dizer que existe uma cultura instaurada dentro deles. Isso faz muita falta às vezes, pois um time sem identidade é um time sem rumo e sem direção.


Vamos pro maior exemplo disso: o pobre do Santos. Vagando sem rumo por mais de uma década sem uma identidade pra abraçar, cada técnico comanda o time de maneira completamente oposta ao anterior, cada presidente opera o time de um jeito totalmente contrário ao anterior.


E a torcida nem se fala, nem eles sabem o que querem, fazem campanha pra contratar um técnico e meses depois estão fazendo campanha pra demitir o mesmo. Não é atoa que o time segue nesse limbo, um time sem cultura e sem identidade não tem pra onde ir.



Por isso, vou encerrar esse texto falando sobre o chamado "culture shift", a mudança na cultura de um time. Isso normalmente ocorre com uma mudança na presidência de um time, ou no início de um processo de reconstrução do elenco.


O maior exemplo que temos disso é o Miami Heat, que com o Erik Spoelstra como técnico alterou completamente o rumo da franquia. O Heat era um time perdido e sem expressão até o final dos anos 2000, mas com o Spoelstra instaurando provavelmente a cultura mais forte de um time nos EUA, a "Heat Culture", e com o setor administrativo do time trazendo bons nomes, eles se tornaram uma dinastia.


Muitas vezes essa mudança de cultura pode ser o que separa um time perdido de uma temporada de sucesso. Às vezes as peças já estão lá, só basta saber o que fazer com elas, basta ter uma direção clara.


Mas se depois de ler tudo isso você ainda não acredita no poder de uma cultura bem estabelecida em um time, vou te falar que tem um clube brasileiro que se assemelha muito a um time americano com uma boa cultura interna estabelecida.


Eles zelam pela comunidade, têm torcedores extremamente fiéis, o administrativo trabalha de maneira impecável com a cultura do time sempre em mente, sabem balancear as coisas dentro e fora de campo e tudo isso trouxe à eles o ano de maior sucesso de sua história.



Esse time é o Mirassol, que recém subiu pra Série A. Com sua comunidade bem estabelecida no interior de São Paulo, eles me lembram muito as fortes comunidades de cidades menores dos EUA. Pouquíssimo separa um jogo em casa do Mirassol de um jogo em casa do Milwaukee Brewers, por exemplo. Está tudo lá: a união, a comunidade, a paixão pelo time da cidade que cada indivíduo faz parte.


O time tem uma ótima administração, toda contratação tem um propósito e é guiada inteiramente pela cultura interna que a torcida estabeleceu junto ao time. Nesse ano todos eles trabalharam como um só com o objetivo de conseguir o acesso, e foram lá e conseguiram!


Resta só saber como um time que opera dessa maneira irá vingar na primeira divisão do Brasil, mas se observar as comunidades dos times das ligas americanas me ensinou algo, é que a cultura interna de um time e a importância que esse time tem pra toda uma comunidade são uma base fortíssima pro sucesso.

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